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sábado, 19 de janeiro de 2013

A despedida do poeta




Toda vida tolhida é uma perda irreparável. Nós nunca estaremos preparados para nos despedir das pessoas com quem convivemos, dialogamos, partilhamos da experiência única e apaixonante do viver. Por isso, neste espaço o objetivo é expor um pouco da existência iluminada de Lázaro Batista da Silva. Uma pessoa que amava a simplicidade. O filho bem amado. O esposo ditoso. O pai fascinante. O estudante dedicado. O professor brilhante. O filósofo engajado nas causas sociais. O contador de piadas. O poeta das palavras fáceis que tocam a alma e aquecem o coração.
            Um ser humano memorável. Em 2003 foi recordista brasileiro em quantidade de horas complementares no curso de filosofia ao realizar 1.252 horas que não fazia parte do exigido para a colação de grau. Aos 36 anos o recordista e trabalhador iniciou o curso de filosofia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste - Campus de Toledo) e concluiu no tempo previsto pela instituição que é de quatro anos. A sua paixão e o gosto pelos estudos filosóficos foram decisivos para que isso se cumprisse.
Para garantir a sua sobrevivência e de sua família dedicava-se em dois empregos. Era professor de filosofia e Fiscal da Companhia de Engenharia de Transporte e Trânsito (Cetrans). Sindicalista, participava da direção regional da APP como Secretário de Assuntos Jurídicos.
Fomos pegos de surpresa. É triste algumas pessoas irem embora e nem dar tempo para a palavra adeus. Não vai ser fácil esquecer o seu caderno dobrado onde as poesias se materializavam. E agora fica a dor. A angústia. A desolação de termos que nos encontrar assim para cumprirmos nossa triste missão: conduzi-lo até aquela que um dia também será a nossa última morada. É com muito pesar que ocorre a despedida daquele que enquanto caminhou pela terra sempre escolheu fazer o bem. A cidade de Cascavel, a educação, os amantes da poesia, os estudantes estão de luto.
Nestas horas de consternação, de vazio, o que dizer? É difícil lidar com estas situações. Até o meio dia já se observava na capela mortuária treze coroas de flores com a frase que resumia este momento: “Saudades para sempre da família, do irmão...”. Sobraram abraços de consolo, lágrimas e silêncio. O filho que põem o caderno e a caneta que o poeta utilizava para escrever. Emocionada a filha é forte ao render homenagem e ler as poesias do pai.
Quem era Lázaro? Alguém que tinha muitos planos, projetos, metas, sonhos. Prestes a se aposentar na Cetrans costumava dizer que pretendia viver da poesia, viajar, visitar, conhecer o mundo. Excelente pai de família, a pedido de um de seus filhos escolheu o Colégio Estadual Eleodoro Ébano Pereira para lecionar. Com sua maneira de ser despertou a juventude para a importância do pensamento, da criatividade, do exercício do poetizar para o viver com autenticidade.
            Por isso, fica fácil compreender as inúmeras pessoas que se fizeram presentes para o último contato, que ao final foi coroado com a chuva como se os céus também chorassem por este ser humano extraordinário que por onde passou deixou marcas do quanto é bom ser honesto. Seus escritos possuem um valor incalculável, incomensurável, um legado que servirá de estímulo e inspiração às futuras gerações. De originalidade inconteste foi um pensador perspicaz e um apaixonado pela poesia que é vida:

 “[...] A poesia
É a semente
Da magia.

Você é um semeador
De letra
Ao calor da caneta.

A imaginação
O desejo
Desenho a imensidão
Que vejo” (Lázaro Batista da Silva).

Obrigado poeta...