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terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Os magistrados e os “ex-pinheirinhos”




Iniciamos o ano com alguns acontecimentos que carecem de toda atenção. Por uma questão teórico-metodológica procuramos destacar apenas dois na crença de que eles serão suficientes para favorecer o debate em prejuízo aos discursos que falseiam o real.
O primeiro refere-se ao informado pelo jornal O Estado de S. Paulo e tantos outros meios de comunicação acerca dos proventos dos magistrados do RJ em comparação com o que recebem os de São Paulo que ao atropelarem a ordem cronológica interna passam um rolo compressor em cima da ética, dos bons princípios, da humanidade. A saber, enquanto um desembargador recebe R$ 1,6 milhões e outros cinco levam uma fatia monetária acima de R$ 600 mil os brasileiros em sua maioria precisam viver nos limites do salário mínimo.
O segundo liga-se ao incidente nefasto - ocorrido no Pinheirinho, em São José dos Campos, no interior do estado paulista (22/01/2012) - em que famílias inteiras foram tocadas de seus lares de maneira truculenta, vil e perversa. O tratamento dispensado a estes seres humanos foi muito pior do que o dispensado aos bichos. Como sabemos os tropeiros ao tocarem suas boiadas se dedicavam ao máximo para entregar todos os animais no destino final na mais perfeita das condições.
Estes fatos assinalam que os grupos que compõe a sociedade são antagônicos. O desenvolvimento de um determina a ruína do outro. Onde está a justiça dos homens responsáveis pelo zelo da lei? Por que o firmado na Constituição de 1988, lei maior, acerca das garantias fundamentais para uma vida com dignidade não é efetivada? Qual é o papel do Estado diante disso tudo?
            O Brasil desponta como uma potência emergente. Não é bom para ninguém as tamanhas desigualdades evidenciadas. De um lado os magistrados com seus salários absurdos presos em seus palácios e protegidos por seguranças e do outro o “povão”, tratados como lixo (um estorvo), jogados na sarjeta, “na rua da amargura”, reféns da miséria econômica, política, social e cultural.
            Existem muitos “pinheirinhos” pelo Brasil. Todavia, a forma de lidar com eles tem se diferenciado e depende da orientação e comprometimento ideológico de cada governante. Em Cascavel, por exemplo, se observa e não é novidade para ninguém, que mudam os prefeitos e a região norte é sempre a escolhida para que os “sem teto”, os que vivem na beira das estradas, os que não têm onde morar se estabeleçam. É o famoso incluir para excluir habitacional que representa um mal menor se comparado com a crueldade praticada em São Paulo. A pergunta que o cascavelense e todo cidadão do mundo faz é se um dia isto tudo irá mudar? É possível ter esperanças em autoridades que não respeitam a vida humana? Das 6.000 pessoas expulsas quantas continuaram vivas para ver as promessas da casa própria se realizar proferidas pelo “político de plantão” que as colocou pra correr?
            O momento é propício para refletirmos acerca da verdadeira função do Estado e do cidadão. Nosso planeta dá sinais visíveis de esgotamento em todos os sentidos. Não podemos deixar que a magia do superficial nos enfeitice. No edifício Liberdade do Rio de Janeiro foram realizadas reformas modernizantes (palatáveis esteticamente) e a hipótese é que isso tenha causado seu desabamento. Chega de aparências. Que o repúdio do sociólogo Boaventura de Sousa Santos contra a ação violenta de desocupação da comunidade do Pinheirinho nos ajude a perceber que o capital egoísta urge ser superado em favor da vida, nosso bem primordial.

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