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sábado, 17 de dezembro de 2011

Bilhete premiado: sonho e realidade



            Se por um lado presenciamos o desenvolvimento avassalador da tecnologia, por outro é estarrecedor verificarmos o crescimento do número de pessoas enganadas por fraudes das mais variadas possíveis. O que faz com que o bilhete premiado e as pirâmides continuem a fazer vítimas? Falta informação e sobra ambição? A hipótese é que a condição para a construção de uma sociedade com sujeitos conscientes, com uma formação sólida e significante associa-se a disseminação e formação de leitores. Afinal e conforme o filósofo Arthur Schopenhauer “ler quer dizer pensar com uma cabeça alheia, em lugar da própria”.
            Sem leitura de mundo temos a constatação do ditado popular que diz: “o dinheiro de trouxa é alegria do malandro”. A ambição, a ingenuidade, a insensatez e a falta de conhecimento são os ingredientes perfeitos que contribuem com a proliferação e fortalecimento dos estelionatários. Estes golpistas não fazem acepção de pessoas: as vítimas vão dos moradores de “barracos de lona preta” aos que residem nos condomínios luxuosos, dos catadores de materiais recicláveis aos médicos, advogados, professores e profissionais liberais. Com conversas envolventes os larápios conseguem fazer os incautos sacarem dinheiro da própria conta bancária e entregarem de bom grado aos seus algozes. Nesta esteira, vê-se a multiplicação do número daqueles que são ludibriados com a promessa de solução dos problemas econômicos. As manchetes nos noticiários são frequentes: “em 2009, na cidade de Ribeirão Preto uma aposentada teve um prejuízo de R$ 30 mil reais por cair no golpe do bilhete premiado”; “em Dourados-MS no dia 28 de julho de 2011 uma advogada de 65 anos foi usurpada em R$ 33 mil por acreditar nas palavras de um idoso e um casal de falsários”.
Sendo assim, nunca é demais repetir que as pirâmides são reinventadas a todo instante. Pode-se dizer que o esquema piramidal é um modelo comercial onde acontece a permuta de dinheiro por meio do recrutamento de outros indivíduos para fazer parte desta corrente de fidelidade. A vítima paga para entrar e espera em pouco tempo receber muito mais do que o capital inicial aplicado. Entretanto, o dinheiro percorre a cadeia e no final só o idealizador do golpe ou quando muito um pequeno número de pessoas consegue realmente tirar vantagens na trapaça de seus seguidores.  
Embora existam pirâmides que tiram vantagens de produtos autênticos elas, por si só, são ilegais e inautênticas. Para explicitar, vale lembrar que para os matemáticos é insustentável a progressão geométrica de um esquema em pirâmide clássico. Logicamente, a maioria dos golpes apresenta referências, testemunhos emocionantes e informações interessantes que faz com que o homem do senso comum sonhe com as promessas dos dias melhores: “vi o encanador que trabalhava de bicicleta entrar no esquema e meses depois dirigir uma camioneta nova. Só não entrei porque não tinha dinheiro suficiente”.
Portanto, vale enfatizar que não existe milagre no sistema capitalista. Isto é, para que alguns possam enriquecer facilmente outros precisam perder o dinheiro que certamente foi conquistado com muita dificuldade. Ou seja, “na sociedade atual, que é uma feira, que é um carrossel, todos individualmente podem vir a ser ricos (livres), mas, necessariamente, só poucos o virão a ser; a procura da propriedade, da herança individual, tem um vencedor contra dez mil vencidos” (Gramsci). Evidencia-se, deste modo, que a desconfiança no ganho fácil é sinal de lucidez.

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