Há
quem diga que vivemos numa sociedade que se assemelha a um ornitorrinco e,
portanto, é complexa a sua definição. Permeada por conflitos diversos,
estruturada a partir de interesses antagônicos a sociedade do capital busca
naturalizar-se. Por isso, a ideia do contrário é extremamente necessária para
rompermos com a massificação da ideologia que reduz a felicidade a uma capacidade
de consumo, que prega o individualismo como melhor estilo de vida, que defende
a liberdade estritamente mercadológica. Ganha com essa mentalidade uma elite
privilegiada em detrimento da classe popular, manipulada e vilipendiada.
Importa
salientar, apesar de trivial, que nem todos conseguem perceber a falácia da
meritocracia que valoriza os méritos ao considerar que todos se encontram num
patamar de condições materiais equivalentes. Entretanto, na concorrência para
vencer na vida, para alcançar o sucesso, uns vão com “muletas” enquanto outros
saem com uma “Ferrari”. Ora, nem precisamos esperar o final da corrida para
sabermos quem será o vencedor. Sendo assim, o que leva alguns educadores,
formadores de opinião, abraçarem tão ardorosamente as ideias que justificam e
legalizam a manutenção dos privilégios sociais? Como superar o poder da televisão
que faz a exceção virar regra com seu canto de sereia?
Já é passada a
hora de ampliarmos a nossa capacidade de indagação se queremos compreender como
funciona a organização social, econômica e política da contemporaneidade. Para alimentar
sua lógica de domínio, o capital precisa que o trabalhador deseje consumir,
tanto quanto os sujeitos pertencentes à elite social. O discurso dominante
associa a identidade da pessoa com aquilo que ela produz. Quem produz para
comprar um “Audi” é mais valorizado do que aquele que só conseguiu comprar um
“corcel 73”. Com isso, utilizando-se de inúmeros recursos de persuasão vemos
que as diferenças entre as classes são ocultadas e a exploração econômica é
maximizada.
Karl Marx foi um
estudioso dos movimentos do capital. Hoje esse modelo econômico e social
representa uma incógnita. No entanto, a compreensão da identidade do homem
passa também pela dissecação do funcionamento da sociedade fantasmagórica. Cabe
questionar quem são os professores no modo de organização social que valoriza a
aparência em prejuízo da essência? Quem são os estudantes? Quem são os cidadãos
conscientes de que a lógica do capital ameaça à existência do próprio planeta
terra? A sociedade que temos pelo trabalho foi construída. Metaforicamente alguns
ousam compará-la como um camaleão devido a sua característica de metamorfose
constante. Por isso, formar pessoas críticas exige cada vez mais dos sujeitos
comprometidos com os rumos da humanidade.
Legitimamos, na
sociedade do consumo, em todo momento a ideia de que tudo se transforma em
mercadoria. Nesse modo de organização social para viver uns precisam vender a
força de trabalho (quem compra fica com o lucro). O trabalhador fica feliz
quando encontra alguém que aceite comprar a sua energia produtiva. Exemplifica-se,
deste modo, a alegria dos haitianos ao conquistarem postos de trabalho na
cidade de Cascavel. Dentre outras possibilidades interpretativas, o fato é que
o trabalho é uma categoria central, por meio do qual, nos compreendemos
enquanto sujeitos históricos.
Minimamente, sem
concluir o debate, espera-se que este texto contribua com a reflexão em torno
da formação do indivíduo em um cidadão radicalmente democrático.
Nenhum comentário:
Postar um comentário