As Pedras-Filosóficas
que estiveram no auditório da Faculdade esteticamente enfeitada no mármore (e
as que assistiram pela televisão) perceberam a união das forças políticas (Foice,
Tesoura, ‘Martelo’, Água, Areia e Vento), empenhadas em enfraquecer o Fogo na
sua retórica metafísica. O objetivo era desnudar as peripécias daquele que
havia feito do vilarejo serpentino uma empresa lucrativa para sua família e
aliados. Na luta contra o poderoso Golias (dissimulado, falastrão e tergiversador)
sobressaiu os descendentes de Davi.
Na
guerra verbalizada veio à tona o gargalo do trânsito, da educação, da saúde, da
falta de segurança, do abandono das estradas rurais. Por diversos ângulos e
diferentes enfoques discutiram o superfaturamento, as fraudes que
inviabilizaram a realização de tantas outras obras. Do Fogo e seus comparsas
foi cobrado o desfecho da CPI da propina (mensalão local). Por que somente na
época das campanhas eleitorais as praças são feitas e os remédios são
fornecidos indiscriminadamente? Se no tempo da Água 35 milhões foram destinados
para o Contorno Oeste e 7 milhões para o Teatro Municipal, por que eles ainda
não ficaram prontos? Quem sabe nas terras serpentárias exista a sangria do
dinheiro público, logo, a união dos elementos tornou-se vital para contrapor-se
a farra das divisas escusas que mantinham as Pedras-Periféricas na poeira, no
barro e no abandono.
Mesmo diante
deste quadro fraudulento e nojento, os favorecidos com o senhorio do Fogo comemoravam
que a eleição estava ganha e no “papo”. Entretanto, depois daquele confronto
discursivo os devotos mais próximos notaram que as coisas não seriam tão
simples. A cada dia aumentava o número das Pedras-Formiguinhas que passavam a
vislumbrar o feitiço do Fogo ganancioso e, neste mote, os “cães leais” observavam
a diminuição da influência da crença: “Ele rouba, mas faz”.
Deste modo, o
Fogo perdia seu brilho. Sua esperança permanecia baseada no postulado de que as
Pedras-Trabalhadoras não pensam e que bastava continuar investindo no emocional.
Isso explicava o fato de naquela região ecoar tamanha alienação: “se mil vezes
o Fogo é candidato, mil vezes eu voto nele”. Nestas horas vale o ditado de que
“algumas vezes o melhor jeito de convencer alguém que está errado é deixá-lo seguir
seu caminho”.
A
nota dez, por obséquio, é auferida ao Vento que fez valer o dito popular de que
“não está morto quem peleia”. Diante do gabar-se do Fogo de que iria emprestar milhões
do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), ela veemente comentou: “[...]
e se o dólar disparar quem vai conseguir pagar essa dívida. Ah! coitadinho dos
cascavelenses”. O Fogo, nocauteado, parecia explodir de vermelhidão.
Sem sucesso o
Fogo buscava queimar a Areia e derreter a Foice que se defenderam exemplarmente.
Restava ainda ao Areia o desafio de desvencilhar-se do estigma de laranja. Do
mesmo modo, a Foice (com suas propostas viáveis) precisava esclarecer aos seus
iguais de que pode contribuir muito mais com o interesse do coletivo das Pedras-Cidadãs
na dianteira do município.
Como
um guerreiro solitário o candidato Martelo alfinetou e chicoteou a todos. A
Água quis endeusar-se e foi puxada pelos companheiros da união contra a
corrupção. A Tesoura despediu-se elencando tudo o que faltava no Reino,
inclusive administrador. Dentre outras coisas, este debate serviu para
demonstrar que os apoiadores do Fogo só o fazem por ingenuidade ou por serem
beneficiados direta ou indiretamente.
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